segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Capítulo XII

Bossa Nova Hoje

Como vimos, a Bossa Nova notabilizou-se pela alta qualidade de suas composições, pelo virtuosismo de seus arranjos, pela beleza e suavidade de suas letras.
Efêmera como movimento, a Bossa Nova marcou a música popular brasileira, projetando-a definitivamente nos Estados Unidos, na Europa e até mesmo no Japão. Dizem mesmo qe a música Garota de Ipanema foi muito mais tocada e gravada que as composições dos Beatles.
Mas a Bossa Nova também influenciou e influencia a música internacional. Ainda hoje podemos encontrar muitos artistas em todo o mundo que valorizam e revindicam a Bossa Nova, como a cantora canadense Diana Krall, o uruguaio German Bense. Nos Estados Unidos ela deniminou-se Samba Jazz. Na Europa, surgiu um movimento que se convencionou rotular de new bossa, em meados dos anos 80, com Style council, Basia, Matt Bianco, Everything but the Girl. Ainda restam representantes deste movimento.
Hoje em dia há vários artistas brasileiros que fazem sucesso no exterior cantando Bossa Nova, entre eles Bebel Gilberto, Rosa Passos, Marcos Valle e outros.
O significado da Bossa Nova em nível mundial é tão expressivo que os 50 anos do movimento foram comemorados em pequim no dia 17 de outubro de 2008 pelo grupo internacional Girassol, formado por um baterista norte-americano, pianista francês, contrabaixista chinês, vocalista canadense.
Capítulo XI

Lendas e Casos da Bossa Nova

Conta-se que, em 1962, Vinícius de Moraes e Baden Powell ficaram trancados por três meses no apartamento de Vinícius. Compuseram 25 canções e consumiram 20 caixas de uísque.

Dizem que Normando Santos, professor de violão na escolhinha de Carlos Lyra e Roberto Menescal, tinha entre seus alunos Maria Teresa, mulher do então Vice-Presidente da República, João Goulart, notável pela sua beleza. Um dia ela o teria convidado para assistir a um filme no "Palácio". Lá se foi ele, no horário combinado, ao cinema Palácio.
Comprou os ingressos, esperou um tempão e foi embora, frustrado.
Só depois ficou sabendo ela o esperava no Palácio Laranjeiras, com outros convidados, e não no cinema Palácio.

João Gilberto sempre teve fama de ser excêntrico. Dizem seus colegas do in´cio da carreira que ele costumava dormir inteiramente vestido, com a gravata tapando os olhos. Um dia, pediu emprestado um lindo suéter de Ronaldo Bôscoli e nunca mais devolveu. Alguns afirmam que o tal suéter é o que aparece na capa do disco inaugural da Bossa Nova, Chega de Saudade.

Nara Leão era admirada entre os "bossa-novistas" não apenas pelo seu talento musical, mas também pelos belos joelhos. Ronaldo Bôscoli chegou a escrever que fora ele o "descobridor" a beleza dos "joelhos redondinhos" e que, segundo ele, "foram objeto de muitas poesias, crônicas e suspiros gerais".
Capítulo X

O Sinatra Brasileiro

Farnésio Dutra e Silva nasceu em novembro de 1921. Aos 24 anos adotou o nome artístico de Dick Farney, com o qual ficaria conhecido no Brasil e no exterior como dos intérpretes da Bossa Nova.
Na juventude Dick Farney inspirava-se em Frank Sinatra para cantar, ao ponto de o chamarem de "O Sinatra Brasileiro". Havia até um fan Clube, de carterinha tudo: "Sinatra-Farney Fan Club".
Aos vinte cinco anos foi para os Estados Unidos, contratado pela cadeia de rádio NBC. Lá, se apresentou com Nat King Cole, Davis Brubeck e Bill Evans. Foi elogiado pessoalmente por Sinatra. Voltando ao Brasil, emocionou milhões de corações com "Somos Dois", "Marina", "Copacabana", "Nick bar", "Aeromoça", "Não tem Sollução", "A saudade mata a gente", " Tereza da Praia", "Uma loira", "Um Cantinho e Você" e tantas outras músicas.
Nos anos 50 envolveu-se com a bossa nova, interpretado clássicos como "Tereza da Praia" (Tom Jobim/Billy Blanco), em dupla com Lúcio Alves. Participou também da primeira grvação da "Sinfonia do Rio de Janeiro", de autoria da mesma dupla, em 1954. Nos anos 60 e 70 excursionoou por diversos pa´ses, fez programas de televisão e foi dono de boates em São Paulo.
Dick Farney morreu em 4 de agosto de 1987, aos 65 anos.
Capítulo IX

A Grande Dama

Elizeth de Moura Cardoso, nascida em 1920, na cidade do Rio de Janeiro, foi uma das grandes intérpretes da Bossa Nova.
Seu talento musical foi descoberto aos dezesseis ano, quando comemorava o aniversário. Foi então convidada para um teste na Rádio Guanabara, pelo chorão Jacob do Bandolim.
Nos anos 30 e 40 Elizeth Cardoso trabalhou em várias rádios, boates, casas noturnas, foi crooner de orquestra e emplacou seu primeiro sucesso, "Canção de Amor" (Chocolate/ Elano de Paula). Elizeth migrou do choro para o samba-canção e deste para a Bossa Nova gravando, em 1958, o antológico disco "Canção do Amor Demais", com músicas de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, considerado marco inaugural do movimento. No ano seguinte continuou atuando ao lado dos compositores da Bossa Nova, e gravou músicas para o filme "Orfeu do Carnaval".
Nos anos 60 apresentou o programa de televisão Bossaudade (TV Record, Canal 7, São Paulo). Em 1968 apresentou-se num espetáculo que foi considerado o ápice da carreira, com Jacob do bandolim, Época de Ouro e Zimbo Trio, no Teatro João Caetano. Em abril de 1965 conquistou o segundo lugar na estréia do I Festival de Música Popular Brasileira (TV Record) interpretando "Valsa do Amor Que Não Vem" (Baden Powell e Vinícius de Moraes); o primeiro llugar foi da novata Elis Regina, com "Arrastão".
Morreu em 7 de maio de 1990, no Rio de Janeiro.
Capítulo VIII

O Menestrel

Francisco Buarque de Hollanda, conhecido como Chico Buarque nasceu no Rio de Janeiro em19 de junho de 1944, filho do historiador Sérgio Buarque Hollanda. A família mudou-se para São Paulo em 1946 e, em 1953, para Roma, Itália. De volta ao Brasil, publicou suas primeiras crônicas no jornal Verbâmidas, nome criado por ele no Colégio Santa Cruz. Sua primeira composição, Canção dos olhos, é de 1961.
Chico iniciou o curso de Arquitetura Na Universidade de São Paulo em 1963, mas parou em 1965, para se dedicar à carreira artística, ano em que lançou Sonho de Carnaval e, também, Pedro Pedreiro. Foi revelado ao grande público quando ganhou o Festival de Música Popular Brasileira da Tv Record, em 1966, com A Banda, interpretada por Nara Leão, empatando em primeiro lugar com Disparada, de Geraldo Vandré. Diz a lenda que, na verdade, ele havia ganhado a votação, mas não aceitou a derrota de Disparada.
Desenvolveu sólida parceria com Tom Jobim. Entre tantas outras canções, compuseram Sabiá, vencendo o III Festival Internacional da Canção da Tv Globo, em 1968. Seu estilo musical foi muito influenciado pela Bossa Nova, da qual fez parte em sua segunda fase, mais engajada.
Ameaçado pelo Regime Militar, exilou-se na Itália em 1969. Nessa época teve suas canções Apesar de Você e Cálice censuradas no Brasil. Adotou o pseudônimo de Julinho da Adelaide, com o qual compôs apenas três canções: "Milagre Brasileiro", "Acorda amor" e "Jorge Maravilha".
É considerado um dos maiores compositores do Brasil em todos os tempos.
Capítulo VII

A Musa

Nara Lofego Leão é considerada a "musa" da Bossa Nova. Nascida no Espírito Santo em janeiro de 1942, mudou-se com apenas um ano para o Rio de Janeiro.
Aos 14 anos, em 1956, Nara Leão iniciou estudos de violão na academia de Carlos Lyra e Roberto Menescal. Mais tarde, tornou-se professora da academia.
A bossa Nova nasceu em reuniões no apartamento de Nara, em Copacabana, durante reuniões em que compareciam nomes como Roberto menescal, Carlos Lyra, Sérgio Mendes e Ronaldo Bôscoli.
No fim dos anos 1950, Nara foi repórter do jornal "Última Hora". A estréia como cantora profissional se deu quando da participação, ao lado de Vinícius de Moraes e Carlos Lyra, na comédia Pobre Menina Rica (1963). Mas a consagração efetiva ocorre após o movimento militar de 1964, com a apresentação do espetáculo Opinião, ao lado de João do Vale e Zé Keti, um espetáculo de crítica social à dura repressão imposta pelo regime militar. Maria Bethânia, por sua vez, a substituiria no ano seguinte, interpretado carcará, pois Nara precisara se afastar por problemas de saúde.
Dentre as suas interpretações mais conhecidas, destaca-se O barquinho, A Banda e Com Açucar e com Afeto - feita a seu pedido, por Chico Buarque, cantor e compositor a quem homenagearia nesse disco homônimo, laçado em 1980.
Morreu na manhã de 7 de junho de 1989 vítima de um tumor inoperável aos 47 anos de idade. Seu último disco foi My foolish heart, lançado naquele mesmo ano, interpretando versões de clássicos americanos.
Capítulo VI

O Fino da Bossa

Cantor, compositor e músico baiano, nascido em 1931. João Gilberto do Prado Pereira de Oliveira é também um dos criadores da Bossa Nova.
Começa como "crooner" em Salvador e chega no Rio de Janeiro em 1949. Torna-se vocalista do conjunto Garotos da Lua e se apresenta na boate Plaza, reduto de músicos inovadores. Abandona o conjunto e desenvolve carreira-solo, sendo contratado pela CBS como violonista para acompanhar gravações. Em 1958 participa das faixas Chega de Saudade e Outra Vez (ambas de Tom Jobim e Vinicius de Moraes), do LP Canção do Amor Demais, de Elizabeth cardoso, introduzindo a harmoniação e a batida no violão característica da Bossa Nova.
Em 1959, lança o primeiro LP, Chega de Saudade, que o confirma como umas das personalidades da renovação musical da época.
Em 1962, participa do show da Bossa Nova no Carnegie Hall, de Nova York e ganha prestígio internacional. Dois anos depois lança Getz/Gilberto, gravado com Stan Getz, nos EUA. O disco vende um milhão de c´´opias e dá ao violonista seis Grammies, o mais cobiçado prêmio musical norte-americano. Fixa residência no EUA e, mais tarde, no México, voltando esporidicamente ao Brasil para shows e gravações, entre os quais destacam-se Na Baixa do Sapateiro (Ary Barroso), Isaura (Herivelto Marins e Roberto Roberti), Falsa Baiana (geraldo Pereira), Samba da Minha Terra (Dorival Caymmi), Samba de Uma Nota Só (Tom Jobim e Newton Mendonça) e O Barquinho (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli).
Capítulo V

O Poetinha

Grande mestre da Bossa Nova, Vinícius da Cruz de Mello Moraes nasceu em 1913 no Rio de Janeiro.
Vinícius de Moraes foi crítico de cinema, participou na fundação da revista Filme, em 1947 e manteve contatos com Orson Welles, Walt Disney e Gregg Toland.
Em 1943, ingressou na carreira diplomática, partindo em 1946 para Los Angeles como vice-cônsul. Em 1952, fixa-se em Paris, como segundo-secretário da embaixada. a sua peça teatral Orfeu da Conceição (premiada em 1954, no IV Centenário da Cidade de São Paulo) serviu de base a um filme que em 1959 conquistou o 1º prêmio no Festival de Cannes.
Vinícius conheceu Tom Jobim em 1956, no Clube da Chave, onde Tom tocava piano. Com Tom, compôs "Garota de Ipanema", símbolo de uma época. Dentre outras parcerias de Vinícius temos Baden Powell ("Samba em prelúdio"), Carlos Lyra ("Minha namorada"), Ary Barroso ("Rancho das namoradas"), Chico Buarque ("Valsinha"), e o seu "inseparável amigo" Toquinho, com quem compôs canções como "Nilzete", "Tonga da Mironga do Kabuletê", "Tarde em Itapuã", "Samba da Rosa", dentre outras.
Vinícius morreu em sua casa em 9 de julho de 1980, sempre com um indispensável copo de uísque ao lado.
Capítulo IV

O Grande Maestro

Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim é considerado o maior nome da Bossa Nova, e um dos principais compositores brasileiros de todos os tempos. Compositor, arranjador e maestro carioca (1927-1994).
Aluno de piano de Hans Koellreutter, compositor alemão, introdutor da música dodecafônica no Brasil, Tom Jobim começou a ganhar a vida como pianista de casas noturnas, no Rio de Janeiro.
Seu primeiro sucesso veio em 1954, com a música Teresa da praia (em parceria de Billy Blanco), gravada pela dupla Dick farney e Lúcio Alves. Dois anos depois, compõe músicas para a peça Orfeu da Conceição, de Viníus de Moraes. Em 1958, várias de suas composições são incluídas no LP Canção do Amor Demais, de Elizeth Cardoso, considerado o prenúncio da Bossa Nova.
Em 1962, compõe com o parceiro Vinícius de Moraes Garota de Ipanema. No mesmo ano participa do Festival de Bossa Nova no Carnegie Hall de Nova York. Grava nos EUA e alcança sucesso internacional. Em 1967, sai o disco Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim. Trabalha com músicos como Stan Getz, Ella Fitzgerald, entre outros. É autor de clássicos da MPB como Desafinado e Samba de Uma Nota Só (Com Newton Mendonça), Corcovado, Sabiá e Retrato em Branco-e-preto (Com Chico Buarque, e Águas de Março. Compõe também músicas para concerto e trilhas sonoras para cinema e televisão. Em 1994, participa do disco Duets II, de Frank Sinatra. Morre em Nova York, aos 67 anos.
Capítulo III

Reinventando a Música

As inovações rítmicas de Tom Jobim, a sutileza do violão de João Gilberto, a formação teórica e o talento de Roberto Menescal, à poesia de Newton Mendonça e de Vinícius de Moraes, e o novo modo de "cantar falando", informal, criaram uma nova estética musical. O refinamento musical, principalmente na harmonia e na instrumentação, diferenciou a Bossa Nova de tudo o que já havia sido feito em música no Brasil.
A produção musical da Bossa Nova pode ser dividida em duas fases: num primeiro momento, algumas músicas como Garota de Ipanema, O barquinho, Lobo bobo, Corcovado refletem em seu discurso o clima coloquial, descontraído e cheio de humor que caracteriza a "cor local".
A outra fase aborda as questões relativas ao subdesenvolvimento brasileiro. Nesta fase a Bossa Nova ingressa no seu período de canções de protesto, uma Bossa Nova engajada, na qual se destacam nomes como Edu Lobo, Carlos Lyra, Vianinha, Guarnieri e Geraldo Vandré e músicas como "Borondá", "Chegança", "Upa neguinho", de Edu Lobo.
Em setembro de 1962, perante um público de três mil pessoas, a Bossa Nova havia conquistado deinitivamente seu lugar no mundo da música, no histórico espetáculo apresentado no tradicional Carnegie Hall de Nova York. A partir de então, a Bossa Nova passa a ser gravada por músicos de jazz e até por nomes como Frank Sinatra, transformando-se no estilo musical brasileiro mais influente no cenário internacional.
Capítulo II

Os Maiores Intérpretes

Além de Tom Jobim, Vinícius de Moraes, João Gilberto, Newton Mendonça, Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli, vários nomes se destacaram como compositores da Bossa Nova, entre eles: Baden Powell, Roberto Menescal, Oscar Castro Neves, Sérgio Ricardo, Luís Bonfá, Geraldo Vandré e João Donato, Chico Buarque. Também muitos intérpretes tiveram seus nomes para sempre ligados ao movimento, entre os quais se destacaram as cantoras Sylvia Teles, Nara leão, Elizabeth Cardoso e Alaíde Costa e os conjuntos Quarteto em Cy, Sexteto Bossa Rio, Tamba Trio e Zimbo Trio.
Dolores Duran, Maysa, Billy Blanco, Juca Chaves e Lúcio Alves são alguns dos intérpretes que se deixaram influenciar pela Bossa Nova.
Outros foram divulgadores nos Estados Unidos, como Maria Helena Toledo, Astrud Gilberto e Sérgio Mendes.
Ainda hoje a Bossa Nova mantém uma grande força. Roberto Menescal escreveu em depoimento à publicação 50 anos de Bossa Nova, da Editora Fred Rossi:
"Poucos anos atrás, ou seja, no final do século passado, na Europa e Japão, principalmente, começou um movimento de uma música mais dançante, ligado à Bossa Nova, fazendo uma fusão com a música eletrônica e DJs. Com isto, compositores vários da Bossa, como Joyce, Marcos Valle, Jobim, etc., tiveram suas músicas regravadas e lançadas nessa nova onda, fazendo com que milhões de jovens saíssem dançando e cantando cações compostas há mais de 40 anos, como se fossem feitas para eles hoje em dia".

domingo, 27 de dezembro de 2009

Bossa Nova em 12 Capítulos

I Capítulo

Uma Bossa Nova

É praticamente impossível precisar quando surgiu a Bossa Nova.
Ela não começou especificamente num lugar, numa data específica.
A rigor, ela não é sequer um gênero musical, mas o tratamento que se dá a uma música, em termos de batida e de ritmo.
O termo "bossa", na gíria da juventude do Rio de Janeiro no final da década de 1950, significava um modo, um "jeito" de fazer as coisas, mas a palavra já aparecera na década de 1930, em Coisas Nossas, samba do popular cantor Noel Rosa:
A Bossa Nova foi, então, a forma como um grupo de jovens da zona sul carioca denominou a ruptura com as fórmulas tradicionais de composição e instrumentação da música popular brasileira da época, caracterizada pela tristeza e melancolia das letras, pela repetição dos ritmos "abolerados" e dos "sambas-canção".
Cansados da mesmice, estes jovens da elite econômica e cultural, ouvintes do jazz e amantes da música erudita, mas inflluenciados também pelo samba nascido nos morros e nos subúrbios, passaram a criar novas composições com diferentes harmonias, poesias mais simples, novos ritmos. Canções mais intimistas, mais refinadas, mais alegres, otimistas.
O disco Chega de Saudade, lançado em 1959 com composições de Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Newton Mendonça, Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli, ao lado de autores tradicionais, como Ari Barroso e dorival Caymmi, interpretadas por João Gilberto, é considerado por muitos o marco fundador da Bossa Nova. Uma de suas faixas, "Desafinado", viria a se tornar um clássico.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Receita de Ano Novo

Para você ganhar belissímo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da paz
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser
novo
até no coração das coisas menos percebidas;
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanhe ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que naõ é fácil, mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre

(Carlos Drummond de Andrade)